Redes

De Coredem
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Definição

Podemos pensar no conceito de redes, levando em consideração os vários níveis fractais, possíveis de uma rede. O nível de uma rede neural, onde um indivíduo pensa com seus bilhões de neurônios, ou mudando de nível fractal, podemos ter duas pessoas formando uma rede em dyad, onde os dois nós de comunicação são as pessoas que formam o canal desta rede. Mundado novamente de nível, podemos imaginar uma família, ou uma sala de aula, onde um número relativamente pequeno de pessoas formam uma rede de comunicação direta. Pensando em um nível fractal maior, podemos considerar essa sala de aula como parte de uma escola, sendo que agora a sala se torna um apenas um nó desta nova rede. Através deste raciocínio podemos imaginar outros níveis fractais maiores: escolas municipais, estaduais e nacionais, cidades, estados, países, continentes, planetas e universos. (TIFFIN&RAJASINGHAM,1995). Sendo assim, em nível social e político, a sociedade contemporânea tem trabalhado o conceito de rede em várias esferas e contextos. Atualmente, na era da informação ou do conhecimento : a economia, a sociedade e a cultura esta sendo estudada como uma sociedade em rede (CASTELLS,1999). Muitas áreas de estudo tem trabalhado esse conceito entre elas a área organizacional, administrativa e empresarial, onde vários autores utilizam a terminologia de rede. Temos nesta área trabalhos polêmicos, como a "Network Marketing " que são utilizados como um recurso de vendas "revolucionário" (POE, 1997), mas que estudos e investigações recentes mostram que estas são novas versões da velha " rede em pirâmide" que de tempos em tempos, acabam iludindo um certo número de pessoas e explorando outras tantas. Mas também temos estudos sérios na área administrativa que vêem a atividade como uma "rede de informações" e trabalham como "teamnets" (LIPNACK&STAMPS,1994), ou estudos que analisam as empresas em sua atual forma organizacional em formato de redes (SANTOS, 1999) e também trabalhos com ênfase geográfica sobre as redes urbanas e redes de telecomunicações . Porém, atualmente, a rede das tecnologias de informação e da comunicação tem sido o carro chefe de qualquer análise da sociedade em rede, tendo a Internet como área de estudo e trabalho.As redes sociais tem também servido para mensurar as expectativas e opiniões de públicos determinados. As redes organizacionais e ou sociais tem muitas vezes servido como grupo de pressão social e política para defender muitas causas e manifestos.

As redes de movimentos sociais no processo de democratização da sociedade

Atualmente vem se desenhando uma nova trindade nas concepções de desenvolvimento: o Estado, o Mercado e a Sociedade Civil (WOLFE, 1992). A professora Ilse SCHERER-WARREN relaciona as principais correntes teóricas do pensamento atual, no contexto da área de pesquisa dos movimentos sociais, através de duas tendências principais: uma, que trata a questão a partir de uma relação dual - sociedade civil versus Estado; e outra, que considera uma relação tripartite - estado/mercado/sociedade civil. Para Norberto BOBBIO, que segue a primeira tendência, a sociedade civil é o campo das várias formas de mobilizações, associações e organização das forças sociais, que se desenvolvem à margem das relações de poder que caracterizam as instituições estatais. Dentro desta visão, CALHOUN distingue a sociedade civil por sua capacidade de associativismo e autodeterminação política independente do Estado. Estas associações, que podem assumir a forma de comunidades, movimentos ou organizações, advindas da igreja, de partidos ou de grupos de mútua ajuda, têm o papel de intermediação junto à instituição Estado. (apud. SCHERER- WARREN, 1994) A segunda tendência, que considera a relação tripartite Estado-mercado-sociedade civil, aponta a sociedade civil como integrante de um terceiro setor, em contraste com o Estado e o Mercado e refere-se genericamente a uma ação, a entidades não-governamentais, independentes da burocracia estatal e sem fins lucrativos, independentes dos interesses do mercado. A própria noção de ONG (Organização Não-Governamental) tende ser compreendida como parte deste setor. Entretanto, Alan WOLFE, seguindo esta tendência tripartite, considera o terceiro setor como a própria sociedade civil, que denomina também de setor social. A noção de Wolfe de associativismo na vida cotidiana aproxima-se daquela de Tocqueville, incluindo-se aí a mútua ajuda, ações de solidariedade comunitária e familiar, além de ONGs e outros movimentos. Além disso, segundo este autor, altruísmo/gratuidade seriam outros elementos constitutivos da sociedade civil (SCHERER-WARREN, 1994) A sociedade civil brasileira tem destacado uma outra trindade enquanto agente político na busca de articulação de redes de movimentos, na articulação entre organizações populares, no sentido de formar um coletivo mais abrangente. Alguns agentes são oriundos do movimento sindical e há ainda aqueles que realizam um trabalho de mediação junto a movimentos populares através das ONGs (organizações não-governamentais) (SCHERER-WARREN, 1993) . É dentro deste quadro conjuntural, que conta com novos movimentos sociais, que surge nos anos 80 o Movimento pela Democratização da Comunicação no Brasil. Na década de noventa, estes movimentos se caracterizaram pelo fortalecimento em forma de rede, as chamadas redes de movimentos. Segundo Ilse Scherer-Warren, "as redes de movimentos que vêm se formando no Brasil apresentam algumas características em comum: busca de articulação de atores e movimentos sociais e culturais; transnacionalidade; pluralismo organizacional e ideológico; atuação nos campos cultural e político" (ibid, p.199). Podemos ainda acrescentar a horizontalidade como característica dessas redes de movimentos sociais no Brasil (SOUZA,1996).

As Redes físicas (tecnológicas) e as Redes (de movimentos) sociais

É interessante notar que as redes das quais falamos até aqui são redes sociais, formas de organização humana e de articulação entre grupos e instituições. Porém, é importante salientar que estas redes sociais estão intimamente vinculadas ao desenvolvimento de redes físicas e de recursos comunicativos. O desenvolvimento das novas tecnologias e a possibilidade de criação de redes de comunicação, de interesses específicos, técnicas, utilizando os mais variados recursos, meios e canais, são fundamentais para o desenvolvimento destas redes de movimentos sociais. Podemos dizer que o desenvolvimento da multimídia, as novas formas interativas de acesso à informática, as conferências e redes via computação representam o mais novo território de disputa e luta na sociedade. As redes de movimentos sociais utilizam-se da possibilidade que oferecem as redes tecnológicas, de troca horizontal de informação, para fortalecer suas estratégias de conquista de espaço na sociedade. Atualmente, muitas redes de movimentos sociais e culturais estão surgindo estimulados pelas redes informacionais e a partir de seu "locus". Dialogicamente, o território, "o mar" das redes eletrônicas, está encontrando novos marinheiros que começam a navegá-la. Especialistas em informática começam a interessar-se pelas ciências humanas, cientistas sociais principiam a atuar em conferências informatizadas, sindicalistas trocam informações e recebem dados via satélite e todos participam de redes de comunicação. É importante salientar que este fenômeno não acontece somente com as redes de movimentos sociais: como já falamos antes, os agentes do mercado e do setor estatal também estão entrando com força neste novo território . Rainer RANDOLPH, analisando as atuais transformações sociais e o surgimento de novas redes, observa que este processo ocorre em duas frentes: a primeira é na esfera privada, onde as transformações das empresas capitalistas ocidentais aglutinadas em redes estratégicas ocorrem sob o signo do LEAN Management, que representa um pacote de medidas de "flexibilização" e "emagrecimento" particularmente da grande corporação capitalista e que englobam uma gama heterogênea de novas relações entre formas de "empreendimentos econômicos". A segunda frente acontece na esfera pública, onde ocorrem modificações relativas ao relacionamento entre Estado e a Sociedade, através da criação de redes de solidariedade, caracterizadas igualmente por uma grande diversidade de relações. Essas redes ganharam visibilidade e notoriedade maior com a proliferação das chamadas Organizações Não-Governamentais (ONGs) a partir da crise do Estado do Bem-Estar e da proliferação de propostas políticas neoliberais. Em síntese, "tanto redes estratégicas como redes de solidariedade não apenas questionam a fronteira entre o quadro institucional e sistema mas a própria consolidação de duas esferas (relativamente) separadas de público e privado. Teríamos, então, transformações em duas "direções": tanto horizontal - com a reformulação e mutação das racionalidades comunicativa e instrumental - quanto vertical - com a redefinição de "espaços" privados e públicos nas novas sociedades" (RANDOLPH, 1993, p.4-5) . Podemos dizer que esses questionamentos e mudanças de conceituação sobre público e privado podem ser verificados com ênfase na disputa do chamado "ciberespaço" (espaço mundial de comunicação eletrônica) ou seja, o "mar" onde navegam os primeiros viajantes destas novas tecnologias da comunicação. É importante salientar, porém, que no bojo do projeto das superrodovias da comunicação, pode-se potencializar e desenvolver o espírito e o embrião já experimentado pela Internet de convivência num espaço e espírito democráticos, "ou podem simplesmente transformá-lo num grande mercado de serviços nas mãos dos grandes cartéis das telecomunicações" (AFONSO, 1994, p.13) . Veja mais em :[1]

Pierre Lévy e o movimento social da cibercultura

Pierre LÉVY em seu livro "Cibercultura" sustenta a tese de que "a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder ( a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem ( interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes." (1999,p.123). Acreditamos, como Lévy, que devemos entender que a democratização do ciberespaço e sua conseqüente contribuição para a democratização da sociedade como um todo não é simplesmente " o acesso a equipamentos informáticos", ou ainda "um acesso ao conteúdo", nem um acesso a mídia , nem um simples acesso a informação, mas sim um "acesso de todos aos processos de inteligência coletiva,(...) ao ciberespaço como sistema aberto de autocartografia dinâmica do real, de expressão das singularidades, de elaboração dos problemas, de confecção do laço social pela aprendizagem recíproca, e de livre navegação nos saberes".( LÉVY,1999,p.196). Em outras palavras a utilização da mídia, da rede, da WEB, como espaço de diálogo, de reelaboração das informações transformando o conhecimento em instrumento de CIBERCIDADANIA.

Fontes

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